Quando me mudei pra São Paulo, em 1993, uma das coisas que mais estranhei era a cara de poucos amigos de todas as pessoas daqui. Há uma barreira muito forte, própria de uma cidade tão grande, impedindo que as pessoas que não te conhecem até possam te cumprimentar. O medo da violência, das pessoas mal intencionadas, de ser enganado cria esta resistência toda.
O primeiro ponto onde senti isto foi nas conversas por telefone. Eu estava muito acostumado a ligar pra casa de meus amigos, e como as vezes me atrapalho ao digitar os números (e na época em que não havia memória nos telefones), a primeira pergunta que fazia era: de onde fala? O atendimento do outro lado era sempre cordial, normalmente identificando a casa e a pessoa que estava falando. Em seguida eu me identificava e conversava normalmente.
Ao me mudar para São Paulo, demorei um pouco pra perder este hábito. E sempre ouvia como resposta: COM QUEM O SENHOR QUER FALAR? Maiúsculo mesmo, gritado na maioria das vezes. Ao me identificar, a barreira era quebrada e a cordialidade imperava. Nem parecia a mesma pessoa com quem eu comecei a conversar, um minuto antes.
Pra quem estava acostumado e viver em cidades menores, onde todos se cumprimentam nas ruas, mesmo que não se conheçam, o choque é grande. Mas aos poucos você deixa de perceber isto, vai se acostumando e raramente isto chama a atenção.
Esta semana foi um pouco diferente. Estava no metrô, de manhã, quando me chamou a atenção, não sei bem por que, o silêncio. Devia haver quase 200 pessoas naquele vagão. Ninguém conversava com ninguém, todos de cara fechada, provavelmente não devia haver amigos ali. Uma boa parte com fone de ouvido, para garantir ainda mais o isolamento. Nenhum sorriso nos rostos. O retrato perfeito da metrópole. Milhões de pessoas morando no mesmo lugar, mas todos isolados. Cada um por si.
Mas a gente de habitua. E acaba ficando exatamente do mesmo jeito, a mesma resistência criada, e a mesma cara de poucos amigos com quem você não conhece. Experimente ligar em casa e perguntar de onde está falando pra ver.
Abraços,
Henri
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