terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley

Numa das passagens do livro Sapiens, sobre o qual comentei aqui recentemente, que falava do nível de felicidade de cada pessoa, o autor Yuval Noah Harari comentava que este somente poderia ser alterado, de forma intrínseca, com o uso de alguma medicação, e citava um livro mais antigo, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, onde as pessoas usavam o Soma com esta finalidade.

Este comentário foi suficiente para que eu me interessasse por este livro. Ao compra-lo, na amazon.com.br, vi que a edição tinha um prefácio escrito pelo próprio autor 15 anos após a escrita do original, onde ele dizia que embora a ciência tivesse avançado muito naquele período, ele não alteraria nada na obra original, pois ela seria completamente descaracterizada. Me surpreendeu o fato de que a obra original foi escrita em 1932.

A criatividade na elaboração da obra é impressionante. Um mundo sem guerras, com todas as pessoas condicionadas e não se atrevendo a fazer nada de proibido, com um sistema de divisão em castas que era decidido antes do nascimento dos bebês.

Aliás este é também um capítulo a parte. Os bebês são todos de proveta, e concebidos numa placenta feita com material suíno, e recebem uma cota de ração líquida artificial que substitui o leite materno. Porém, como todos os bebês tem seu futuro pré-determinado antes ainda do desenvolvimento do feto, este já é condicionado durante o período de gestação, de uma forma bem tensa.

Os bebês que serão membros de castas inferiores sofrem durante o processo de gestação para que possam já nascer condicionados à profissão que vão ocupar. Caso eles vão trabalhar no conserto de uma estação espacial, por exemplo, recebem mais oxigênio enquanto estão de ponta cabeça do que quando estão de cabeça para cima, de forma que fiquem mais confortáveis naquela posição.

Tem muitas outras coisas muito interessantes, mas a Soma é realmente muito bem pensada: pense numa pílula da felicidade, enquanto está fazendo efeito não há nenhuma preocupação, é um hiato de felicidade a cada noite. A quantidade de Soma é controlada, pois o uso em excesso faz mal, porém o uso regular não traz nenhum outro efeito colateral. É um bom vinho em forma de comprimido, e sem nenhuma ressaca.

E há muito mais: sexo sem compromisso - na base do ninguém é de ninguém. Ausência e proibição da palavra de Deus, foco absoluto nos processos - tanto é que Deus, pra eles, é Ford. E a cruz é a letra T, em homenagem ao Ford T - segundo o autor isto foi bem fácil de adaptar, bastou cortar a parte de cima de todas as cruzes...

Descobri hoje também que há duas adaptações do livro para filmes: uma feita na década de 80, e outra feita na década de 90. Há também uma série sendo produzida atualmente com a mesma temática. O livro é tão rico que abre muitas possibilidades, condensá-lo em um filme de uma hora e meia deve ter sido um exercício bem pesado para cortar várias histórias interessantes.

Vale a leitura. Um clássico de quase 100 anos.

Abraços,

Henri Coelho

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