terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

As críticas e os spoilers

É muito interessante a função de um crítico de cinema, tv ou livros: ter que analisar diversos trabalhos num espaço curto de tempo e emitir, sobre eles, uma opinião que pode levar mais ou menos pessoas a se interessarem por aquela obra.

No entanto estes críticos deveriam seguir uma regra, que se não existe está sendo proposta aqui: qualquer revelação acerca do enredo, das personagens, dos acontecimentos, das cenas e de tudo mais que cerca o objeto da crítica não deveria expor o que acontece depois de, por exemplo, os primeiros 10% ou 20% do conteúdo.

Muitas vezes deixo de ler estas críticas por esta razão, as vezes prefiro me arriscar em algum filme, por exemplo, sem saber nada do que se passa nele, e muitas vezes isto é péssimo, pois acabo vendo coisas que não tem nada de interessante. Mas muito pior é assistir a algo que alguém lhe diz o que vai ocorrer e seu cérebro fica esperando que aquilo ocorra, sem prestar a devida atenção no resto ou sem considerar o que está assistindo ou lendo com alguma surpresa, pois sabe o que vai ocorrer à frente.

E isto ocorreu novamente na semana passada: o jornal Valor Econômico tem um caderno que é encartado às sextas-feiras chamado Eu & Fim de Semana, onde são apresentadas reportagens especiais, normalmente uma boa entrevista com alguma personalidade de destaque, alguns artigos e críticas de filmes, livros, cds e séries.

E na última sexta-feira havia uma crítica a uma série, da Netflix, chamada OA, que tem apenas 8 capítulos e, por enquanto, 1 temporada. A crítica dizia que a série tinha altos e baixos, lembrava outra série da mesma empresa, chamada Stranger Things, que teve boa repercussão recentemente, porém citava que era uma série para adultos.

A série mostra uma jovem, cega, que desapareceu, e que cuja família tentou, de várias maneiras e com boa repercussão na imprensa, encontrá-la, sem sucesso. E esta jovem reaparece, depois de 7 anos, numa ponte, parando o trânsito e aparentemente desorientada, com várias pessoas filmando em seus celulares, até que pula no rio e vai parar num hospital, onde a família a acaba encontrando. E com alguns detalhes interessantes: ela possuía várias cicatrizes nas costas e não estava mais cega.

Todo o enredo acima, que serve para atrair quem possa se interessar pela série, cobre os primeiros 5 a 10 minutos da trama. A série fala também de experiências de quase morte - aquelas pessoas que tiveram paradas cardíacas e respiratória e que conseguiram ser ressuscitadas a tempo - de uma forma bem interessante, o que também vale citar no mesmo contexto.

E o que fez o brilhante crítico de séries do Valor Econômico: uma crítica maior (ocupava 3/4 de uma página pequena, pois neste encarte as páginas são menores, e este espaço incluía uma foto dos protagonistas) e com boas revelações sobre o enredo, do tipo estraga-prazeres ou spoiler, como é conhecida atualmente. E a pérola final: sabe qual a cena que ele descreve na crítica? A última cena do último episódio desta temporada, por enquanto, única da série.

Para mim isto passa de qualquer limite aceitável. Embora, como disse no início, ache muito interessante o trabalho dos críticos, neste caso o texto estava abaixo da crítica.

E, sobre a série, gostei do seu conteúdo, acabei assistindo com meu filho durante o final de semana e vale bem a pena. Se eu não soubesse de antemão qual a última cena talvez gostasse ainda mais.

Abraços,

Henri Coelho

sábado, 11 de fevereiro de 2017

O velho e o mar, de Ernest Hemingway

Li esta semana este grande clássico de Ernest Hemingway, "O velho e o mar". Este livro me foi recomendado há alguns meses, já tinha ouvido falar muito dele mas a recomendação foi mais forte e criou toda a expectativa sobre uma grande obra.

O livro é bem curto, e foi escrito na década de 50, em Cuba. Trata-se da história de um pescador já idoso, e de um garoto que trabalhava com ele nas pescarias mas que, por pressão dos pais, pela má sorte do velho, começou a trabalhar em outro barco. Mas não perdeu a amizade pelo velho, e se tornou mais que um amigo, quase um responsável por ele.

O livro retrata um momento difícil na vida do velho pescador, Santiago, que está há quase 3 meses sem pegar nenhum peixe, e sua solidão no mar ao sair pra pescar com todos estes dias sem sucesso nas costas. E sua batalha para tentar pegar o maior peixe da sua vida.

O livro é bom, sem dúvida. A maneira como o sofrimento do velho durante a pescaria é narrado, bem como a narrativa sobre os cuidados do menino, Manolin, com Santiago, consegue mostrar muito bem os sentimentos de cada um dos dois.

Hemingway ganhou um Prêmio Nobel de Literatura, e este livro foi especificamente citado entre os motivos pelo qual o prêmio Nobel foi dado a ele: "Por seu poderoso domínio da arte da narração moderna, mais recentemente evidenciado em O velho e o mar, e pela influência que exerceu sobre o estilo contemporâneo".

Com este livro ocorreu comigo o que já havia ocorrido em outras situações: a obra é muito recomendada, a expectativa é muito grande e o livro é bom, mas não consegui achar ótimo como esperava. Acho que se eu tivesse lido sem uma expectativa tão alta teria gostado mais.

Abraços,

Henri Coelho

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley

Numa das passagens do livro Sapiens, sobre o qual comentei aqui recentemente, que falava do nível de felicidade de cada pessoa, o autor Yuval Noah Harari comentava que este somente poderia ser alterado, de forma intrínseca, com o uso de alguma medicação, e citava um livro mais antigo, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, onde as pessoas usavam o Soma com esta finalidade.

Este comentário foi suficiente para que eu me interessasse por este livro. Ao compra-lo, na amazon.com.br, vi que a edição tinha um prefácio escrito pelo próprio autor 15 anos após a escrita do original, onde ele dizia que embora a ciência tivesse avançado muito naquele período, ele não alteraria nada na obra original, pois ela seria completamente descaracterizada. Me surpreendeu o fato de que a obra original foi escrita em 1932.

A criatividade na elaboração da obra é impressionante. Um mundo sem guerras, com todas as pessoas condicionadas e não se atrevendo a fazer nada de proibido, com um sistema de divisão em castas que era decidido antes do nascimento dos bebês.

Aliás este é também um capítulo a parte. Os bebês são todos de proveta, e concebidos numa placenta feita com material suíno, e recebem uma cota de ração líquida artificial que substitui o leite materno. Porém, como todos os bebês tem seu futuro pré-determinado antes ainda do desenvolvimento do feto, este já é condicionado durante o período de gestação, de uma forma bem tensa.

Os bebês que serão membros de castas inferiores sofrem durante o processo de gestação para que possam já nascer condicionados à profissão que vão ocupar. Caso eles vão trabalhar no conserto de uma estação espacial, por exemplo, recebem mais oxigênio enquanto estão de ponta cabeça do que quando estão de cabeça para cima, de forma que fiquem mais confortáveis naquela posição.

Tem muitas outras coisas muito interessantes, mas a Soma é realmente muito bem pensada: pense numa pílula da felicidade, enquanto está fazendo efeito não há nenhuma preocupação, é um hiato de felicidade a cada noite. A quantidade de Soma é controlada, pois o uso em excesso faz mal, porém o uso regular não traz nenhum outro efeito colateral. É um bom vinho em forma de comprimido, e sem nenhuma ressaca.

E há muito mais: sexo sem compromisso - na base do ninguém é de ninguém. Ausência e proibição da palavra de Deus, foco absoluto nos processos - tanto é que Deus, pra eles, é Ford. E a cruz é a letra T, em homenagem ao Ford T - segundo o autor isto foi bem fácil de adaptar, bastou cortar a parte de cima de todas as cruzes...

Descobri hoje também que há duas adaptações do livro para filmes: uma feita na década de 80, e outra feita na década de 90. Há também uma série sendo produzida atualmente com a mesma temática. O livro é tão rico que abre muitas possibilidades, condensá-lo em um filme de uma hora e meia deve ter sido um exercício bem pesado para cortar várias histórias interessantes.

Vale a leitura. Um clássico de quase 100 anos.

Abraços,

Henri Coelho

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Um ídolo chamado Roger Federer

Sempre gostei de jogar tênis - só não aprendi a fazer isto direito. Como tudo na vida, se você quiser fazer isto bem é necessária muita motivação e muito esforço, e confesso que meu esforço neste esporte nunca foi muito grande.

O que não impede a admiração que tenho pelo jogo de alguns tenistas. Entre eles, e principalmente, Roger Federer. E não é de hoje. O estilo de jogo dele, o golpe de esquerda com uma só mão - o chamado backhand - executado a perfeição, o domínio pleno de todos os movimentos do tênis, a habilidade para alternar golpes, tudo isto só aumenta o fascínio pelo ídolo.

Nesta última semana ele voltou às manchetes por ter ganho um torneio na Austrália. Este torneio, também chamado de major, faz parte dos 4 maiores torneios de tênis da atualidade, os chamados Grand Slam, que são: Australian Open na Austrália, Roland Garros na França, Winbledon na Inglaterra e US Open nos Estados Unidos.

A cena dele comemorando a vitória, no final do jogo, parecia um jovem que ganha seu primeiro torneio importante, tal a empolgação. Porém era seu 18º título de Grand Slam, conquistado aos 35 anos de idade. O último destes títulos ele tinha conquistado em 2012, e no ano passado ficou 6 meses parado por conta de uma cirurgia no joelho. Lembra um pouco a história de superação do Ronaldo Fenômeno na Copa do Mundo em 2002.

Mas o que impressiona mais são os 2 rankings dos maiores vencedores destes torneios. Compilei os dados a partir da wikipedia com 2 informações relevantes: quais são os tenistas masculinos que mais chegaram a finais, considerando apenas os majors, e quais os maiores campeões. As informações a seguir consideram os torneios a partir de 1968, a chamada era aberta do tênis.

O primeiro segue abaixo, mostrando todos os tenistas que chegaram a 10 ou mais finais de Grand Slam:


Neste, duas coisas chamam a atenção: a quantidade de vezes que o Federer chegou às finais destes torneios, muito superior a de seus concorrentes, e o fato de que os 3 mais bem ranqueados ainda estarem em atividade, ou seja, a distância para o quarto colocado deve aumentar. Porém é grande a chance de que o terceiro colocado, Djokovic, cresça bastante neste ranking.

Este outro ranking é mais divulgado: a quantidade de títulos de Grand Slam de cada tenista, mostrando todos que ganharam 5 ou mais títulos de Grand Slam:


Agora os 3 tenistas destacados anteriormente, e que ainda estão em atividade, aparecem nas 4 primeiras posições do ranking, agora acompanhados de Pete Sampras, outro monstro das quadras. A distância aqui também é grande entre Federer e Nadal, seu maior rival.

Enfim, os números só servem pra mostrar a grandeza deste tenista. Num circuito que exige muito fisicamente, onde partidas de 5 sets muitas vezes duram mais de 4 horas, em que o intervalo entre estas partidas muitas vezes é de 1 dia, apenas, espanta muito alguém com 35 anos, por melhor que seja sua técnica, conseguir ainda chegar a finais e levantar títulos. Fenomenal.

E pra encerrar, e não dizer que não falei nada do maior tenista masculino brasileiro, um ranking dos invictos em finais e que disputaram mais de uma final. Lá está nosso Guga, dividindo o topo com um tenista ainda em atividade, Wawrinka.


Guga foi o responsável pela motivação de muitos brasileiros para jogar tênis, desde seus 3 títulos em Roland Garros. No meu caso a paixão pelo esporte é mais antiga, e só foi reforçada com ele.

Abraços,

Henri Coelho