sábado, 19 de julho de 2014

João Ubaldo Ribeiro e as superstições

Esta semana mais um grande escritor nos deixou: o imortal João Ubaldo Ribeiro. A morte dele me chateou bastante, pois sou fã de seu estilo e de seus textos há bastante tempo. E da sua simplicidade: ele fazia de tudo para não ter que calçar sapatos, e poder andar sempre com suas sandálias havaianas, e falar bastante de sua Itaparica, na BA.

O Pops foi assinante do Estadão por muitos anos, hábito que herdei por um bom período, até que a Internet passou a ser uma fonte de consulta de notícias mais conveniente, quando passei a comprar o jornal nas bancas, normalmente nas edições de domingo. E no Estadão de domingo sempre tinha a crônica do João Ubaldo Ribeiro (que também era publicada no jornal O Globo, do Rio de Janeiro), leitura obrigatória.

E a primeira história que me veio a cabeça, quando soube da morte do escritor, foi uma que ele contou em uma crônica escrita como correspondente do Estadão na Copa do Mundo de 1994 nos EUA. Nesta crônica ele falava de superstição, ligando-a ao futebol, e se mostrava bastante supersticioso, acreditando que, se seguisse seus rituais, a Seleção Brasileira sairia vencedora em todos os jogos da Copa do Mundo.

E nesta crônica ele falava de uma pessoa que deu a descarga, no banheiro, durante um ataque do time Brasileiro que resultou em gol imediato. Depois disso, no restante do jogo e da copa, a cada ataque do Brasil era uma nova descarga, até que a caixa d'água se esvaziasse. O próprio cronista voltou ao tema em uma crônica recente, publicada no Estadão no mês passado, cujo link está a seguir:
Grave Desfalque na Seleção.


Não me considero supersticioso, mas há uma outra história, ligada ao livro A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, que desmente isto. Quando comecei a ler este livro, há mais de 15 anos, uma pessoa da família, muito querida, teve câncer. Precisou passar por algumas cirurgias, se recuperou, e parei de ler o livro, já próximo do fim, pois não combinava com o estado de preocupação de todos na época.

Passado algum tempo, boa recuperação, voltei ao livro, e em seguida, foi descoberto que o tumor voltara e que seria necessário fazer alguns procedimentos complementares para sua erradicação. Faltavam menos de 10 páginas para acabar o livro, que foi novamente interrompido, desta vez em definitivo. Está lá, guardado numa prateleira. E o familiar: totalmente recuperado. Melhor deixar como está.

Pra encerrar, mais um link, desta vez pra uma coluna do Ancelmo Gois, que mostra os originais de um discurso preparado pelo escritor quando foi patrono de uma turma de jornalismo, em 1994. O discurso é bem atual, como são vários dos textos dele, e a mensagem é ótima: Nunca cessem de acreditar no trabalho honesto.

Abraços,

Henri Coelho

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Davi e Golias, de Malcolm Gladwell

Malcolm Gladwell é um dos meus autores preferidos: seus livros são escritos de forma a lhe fazerem pensar bastante sobre algum assunto em específico, sobre o qual ele procura apresentar uma série muito grande de dados para provar seu ponto de vista.

Neste livro, Davi e Golias - a arte de enfrentar gigantes, ele cria um modelo que segue em quase todos os capítulos: apresenta um assunto, com todos os detalhes que parecem óbvios para todos, e depois mostra uma série de outros argumentos para te mostrar o que não era tão claro assim, e te permitir chegar a outra conclusão.

Normalmente seus livros são uma miscelânea de assuntos, tendo um fio condutor. No livro atual ele fala desde a história de Davi e Golias, que dá título ao livro, até sobre o holocausto, passando por tópicos sobre o sucesso de um time de basquete treinado por uma pessoa que não entendia nada do jogo, o tamanho das turmas nas escolas, a escolha correta da universidade, os desafios para as pessoas que tem dislexia, os pintores impressionistas, o conflito racial nos EUA, etc. E em vários assuntos desafia o senso comum, embora primeiro faça você acreditar que seus conceitos anteriores estavam absolutamente corretos. O fio condutor: a arte de enfrentar aquilo que lhe parece um gigante, inatingível, insuperável.

Malcolm é um escritor de uma revista americana chamada New Yorker. Já li alguns de seus artigos on line, sofrendo um pouco com o idioma, que são muito interessantes. A sensação, após cada artigo ou capítulo, é a de um escritor que se esforçou muito para pesquisar sobre o assunto em questão, ou seja, o livro não saiu sem muito esforço e dedicação. Claro que há deslizes no livro - há uma nota de rodapé que lhe dá vontade de parar de ler o livro imediatamente, mas considere esta apenas como um choque de neurônios do autor a 200 Km/h e releve, pois o restante vale a pena.

Meu livro favorito de sua autoria é Outliers - Fora de Série. Embora o estilo seja o mesmo, o tema central deste livro é a dedicação, a história que talento somado a muito, muito, muito trabalho, gera um gênio. Neste livro ele mostra a história de vários gênios da humanidade e a combinação de talento e trabalho funcionando maravilhosamente. É um livro muito indicado para todos os jovens que estão começando e acham que muita coisa vai cair do céu.

Neste ponto, lembro do técnico Muricy Ramalho e seu bordão: "Aqui é Trabalho". É bem o que reflete este último livro citado.

E muito do que faltou bem recentemente em uma certa seleção...

Abraços,

Henri Coelho