Já ouvi muitas histórias de como os grandes supermercados e hipermercados sambam em cima de seus fornecedores, aumentando de forma muito grande suas margens de lucro e zerando o risco de ficar com mercadorias encalhadas.
Como exemplo, existem os enxovais que algumas redes cobram dos fornecedores: quando uma nova loja é inaugurada, todos os fornecedores doam as mercadorias que serão expostas na loja na inauguração, sem custo nenhum pra rede, nem de transporte. Assim é fácil, não é?
A reposição de algumas mercadorias nas gôndolas, nestas lojas, também é feita por conta dos fabricantes. A descarga dos caminhões que chegam com mercadorias? Idem. Se uma mercadoria vence, pois não vendeu, a responsabilidade também é deles. Lógico que os custos estão embutidos no valor das mercadorias, mas isto torna muito mais confortável a operação das grandes redes de supermercados.
E embora tenhamos tudo isto, tem uma parte que pra mim é a mais perversa de todas, pois é a que diretamente bate no nosso bolso, e em especial dos menos atentos: o erro entre o valor marcado da mercadoria, na gôndola, e o valor que está no sistema, e que é cobrado no caixa.
A maneira como passamos pelos caixas do supermercado é bastante propícia para que ninguém repare nisto: há normalmente poucos caixas, o que gera fila e pressão, ainda que velada, de todos que estão na fila para que você seja o mais rápido possível na passagem pelos caixas. A esteira que precede a leitura do código de barras dos produtos não é tão grande, e se você comprar muitos produtos, não é possível colocar todos os itens ali antes que o atendente comece a fazer a cobrança. Não há ninguém para embalar os produtos, então você não consegue olhar os preços que estão sendo cobrados pois tem que colocar os produtos em caixas, em sacolas retornáveis, nas tão criticadas sacolinhas de plástico ou ainda diretamente de volta nos carrinhos. E isto, normalmente, garante que você não vá olhar os preços que estão sendo cobrados.
Mas faça um exercício, e o resultado vai lhe surpreender: procure memorizar os preços dos produtos que você está comprando, pelo menos uma parte deles, e veja o preço que é cobrado no terminal de caixa: em vários casos há produtos anunciados nas gôndolas por um preço, e que passam com outro preço na hora de pagar. E há variações grandes, às vezes acima de 15% nos preços.
Quando você detecta algo assim, eles são muito prestativos: algum atendente é chamado, vai até o local, volta com a informação de que você está certo e o desconto lhe é dado imediatamente, cobrando o menor preço, pois pelo código de defesa do consumidor você tem este direito. E o que é feito em seguida? Nada. O próximo consumidor vai ser atraído por um preço mais baixo na gôndola e vai pagar mais caro no caixa, sem saber. Não há uma atualização do sistema, para cobrar o preço correto. Não há a preocupação em retirar da gôndola o preço errado, se este realmente for o caso. O supermercado não perde nada com isto, só ganha.
Isto faz com que eu não consiga acreditar que estes erros, muito mais frequentes do que imaginamos, sejam ao acaso. É uma situação muito conveniente para as grandes redes, não há nenhuma punição neste caso (o produto deveria ser cobrado pela metade do preço, ou o consumidor deveria ter o produto de graça, ou qualquer outra coisa assim), então só se ganha com este erro.
Em 2 ocasiões me lembro, inclusive, de produtos que estavam em oferta, no meio dos corredores, com muito destaque, e em um caso em 3 pontos diferentes da loja, estarem com preço muito diferente no caixa. Uma vez no Carrefour, onde um pacote de guardanapos estava com um desconto de mais de 40%, e com várias pessoas pegando vários pacotes, e no caixa não existia desconto nenhum: porém, se você reclamasse, imediatamente o desconto lhe era dado, sem até a necessidade de alguém se deslocar para a promoção para conferir. Outra ocasião, no Pão de Açúcar, com um vinho, que estava anunciado em 3 pontos diferentes da loja por um preço, e era cobrado no caixa com 6 reais a mais em cada garrafa, o que representava mais de 15% do preço do vinho. De novo, é só reclamar que eles lhe cobram o preço correto, mas quantos reclamam?
Talvez devêssemos aprender a fazer barulho nestes casos. Será que isto mudaria algo?
Abraços,
Henri
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Gostou do post? Não gostou? O que importa é que você divida suas impressões com todos.