sexta-feira, 29 de março de 2013

Oportunidade perdida

Em 2009 saiu uma notícia informando que a venda de livros digitais superava a venda de livros físicos no site da Amazon americana. Em algumas categorias, como a de livros de ficção, a venda de e-books superou a venda de livros físicos, considerando todo o mercado norte-americano, no ano de 2011.

A empresa que foi a grande responsável por esta mudança foi a própria Amazon, que lançou um leitor de livros digitais (e-reader) chamado Kindle, que fez muito sucesso, e que acabou provocando uma grande redução no mercado de livros físicos, levando ao fechamento da segunda maior cadeia de livrarias americana, chamada Borders, e a redução significativa do número de lojas da maior rede de livrarias daquele país, chamada Barnes & Noble.

Para fazer todo este sucesso, um dos pilares da estratégia da Amazon foi o preço. Ela fez pesadas negociações com grandes editoras, que aceitaram reduções de até 70% no preço de capa de seus livros para que estes pudessem ser vendidos no meio digital. Com um preço menor, e aparelhos de leitura cada vez com maior capacidade e conforto para os leitores, começou a ser feita esta grande revolução.

Hoje existem vários leitores digitais a venda, inclusive no mercado nacional, basicamente em 2 categorias: aparelhos cuja função principal é a de servir como leitor digital, como é o caso do próprio Kindle, e os tablets, que tem diversas funções, e entre elas aplicativos compatíveis com os livros digitais. Nos 2 casos, há muita facilidade para leitura, para comprar e baixar os livros, não há desconforto visual na leitura, nem a necessidade de se colocar um marcador de páginas quando a leitura é interrompida, visto que abrir na última página lida é uma função básica nestes aplicativos.

E aqui no nosso Brasil? Em dezembro último, a Amazon, após vários ensaios, abriu finalmente a sua loja brasileira. Aqui entramos na oportunidade perdida, citada no título deste post. A negociação com as editoras aqui também foi feita, só que a Amazon não contava que a maior rede de livrarias do Brasil, a Saraiva - Siciliano, já escolada com o que ocorreu no mercado americano, atrapalhasse suas negociações com as editoras.

Pelos números de mercado, mais da metade dos livros são vendidos no Brasil através da Saraiva, considerando tanto as lojas físicas quanto a loja virtual. Isto dá um poder muito grande para a Saraiva frente às editoras. E no mercado circula a informação de que isto tenha sido pela gigante nacional, alertando as editoras que, se os descontos para a Amazon, no caso dos livros digitais, seguisse a mesma política usada pelas editoras americanas, com até 70% de redução no preço de capa, a Saraiva deixaria de distribuir os livros destas editoras. Além disso, deveria haver o lançamento primeiro do livro físico, e somente depois de algum tempo, do livro digital.

Quando seu maior cliente, visando proteger seu mercado, lhe faz uma ameaça destas, não é de se estranhar que as editoras tenham sucumbido. E a Amazon entrou no mercado brasileiro, há 3 meses, oferecendo os mesmos preços que as outras lojas ofereciam para os livros digitais: até 30% de desconto no preço de capa, e aguardando 90 dias, depois do lançamento do livro físico, para lançar o livro digital. Este percentual de desconto é até menor do que boa parte das lojas oferece depois de 3 meses do lançamento, em se tratando dos livros tradicionais, e muitas vezes o livro digital acaba ficando mais caro que o livro em papel. Perdemos então uma grande oportunidade para aumentar o acesso de mais pessoas aos livros, pois o preço é o principal fator de desmotivação para a leitura.

Desta maneira, olhando a realidade atual do mercado, se você gosta de ler livros de autores consagrados, e enxergou no livro digital uma possibilidade de economizar neste seu hábito de leitura, esqueça: não vale a pena comprar um leitor digital. Outros motivos podem te levar para este novo hábito, principalmente as razões ecológicas, mas certamente não as razões econômicas. Simplesmente, não compensa.

PS: muitas das informações acima vieram de um site de tecnologia de que gosto muito, e que tenho em meus favoritos, chamado Gizmodo. Segue abaixo 2 links interessantes sobre este tema:

Gizmodo.com.br: Os desafios da Amazon no Brasil: Saraiva e o receio das editoras
Gizmodo.com.br: Amazon pode comprar Saraiva para enfim desembarcar no Brasil
Gizmodo.com.br: Amazon Brasil estreia com e-books; Kindle chegará por R$299

Abraços,

Henri

sexta-feira, 22 de março de 2013

O mau hábito dos supermercados

Já ouvi muitas histórias de como os grandes supermercados e hipermercados sambam em cima de seus fornecedores, aumentando de forma muito grande suas margens de lucro e zerando o risco de ficar com mercadorias encalhadas.

Como exemplo, existem os enxovais que algumas redes cobram dos fornecedores: quando uma nova loja é inaugurada, todos os fornecedores doam as mercadorias que serão expostas na loja na inauguração, sem custo nenhum pra rede, nem de transporte. Assim é fácil, não é?

A reposição de algumas mercadorias nas gôndolas, nestas lojas, também é feita por conta dos fabricantes. A descarga dos caminhões que chegam com mercadorias? Idem. Se uma mercadoria vence, pois não vendeu, a responsabilidade também é deles. Lógico que os custos estão embutidos no valor das mercadorias, mas isto torna muito mais confortável a operação das grandes redes de supermercados.

E embora tenhamos tudo isto, tem uma parte que pra mim é a mais perversa de todas, pois é a que diretamente bate no nosso bolso, e em especial dos menos atentos: o erro entre o valor marcado da mercadoria, na gôndola, e o valor que está no sistema, e que é cobrado no caixa.

A maneira como passamos pelos caixas do supermercado é bastante propícia para que ninguém repare nisto: há normalmente poucos caixas, o que gera fila e pressão, ainda que velada, de todos que estão na fila para que você seja o mais rápido possível na passagem pelos caixas. A esteira que precede a leitura do código de barras dos produtos não é tão grande, e se você comprar muitos produtos, não é possível colocar todos os itens ali antes que o atendente comece a fazer a cobrança. Não há ninguém para embalar os produtos, então você não consegue olhar os preços que estão sendo cobrados pois tem que colocar os produtos em caixas, em sacolas retornáveis, nas tão criticadas sacolinhas de plástico ou ainda diretamente de volta nos carrinhos. E isto, normalmente, garante que você não vá olhar os preços que estão sendo cobrados.

Mas faça um exercício, e o resultado vai lhe surpreender: procure memorizar os preços dos produtos que você está comprando, pelo menos uma parte deles, e veja o preço que é cobrado no terminal de caixa: em vários casos há produtos anunciados nas gôndolas por um preço, e que passam com outro preço na hora de pagar. E há variações grandes, às vezes acima de 15% nos preços.

Quando você detecta algo assim, eles são muito prestativos: algum atendente é chamado, vai até o local, volta com a informação de que você está certo e o desconto lhe é dado imediatamente, cobrando o menor preço, pois pelo código de defesa do consumidor você tem este direito. E o que é feito em seguida? Nada. O próximo consumidor vai ser atraído por um preço mais baixo na gôndola e vai pagar mais caro no caixa, sem saber. Não há uma atualização do sistema, para cobrar o preço correto. Não há a preocupação em retirar da gôndola o preço errado, se este realmente for o caso. O supermercado não perde nada com isto, só ganha.

Isto faz com que eu não consiga acreditar que estes erros, muito mais frequentes do que imaginamos, sejam ao acaso. É uma situação muito conveniente para as grandes redes, não há nenhuma punição neste caso (o produto deveria ser cobrado pela metade do preço, ou o consumidor deveria ter o produto de graça, ou qualquer outra coisa assim), então só se ganha com este erro.

Em 2 ocasiões me lembro, inclusive, de produtos que estavam em oferta, no meio dos corredores, com muito destaque, e em um caso em 3 pontos diferentes da loja, estarem com preço muito diferente no caixa. Uma vez no Carrefour, onde um pacote de guardanapos estava com um desconto de mais de 40%, e com várias pessoas pegando vários pacotes, e no caixa não existia desconto nenhum: porém, se você reclamasse, imediatamente o desconto lhe era dado, sem até a necessidade de alguém se deslocar para a promoção para conferir. Outra ocasião, no Pão de Açúcar, com um vinho, que estava anunciado em 3 pontos diferentes da loja por um preço, e era cobrado no caixa com 6 reais a mais em cada garrafa, o que representava mais de 15% do preço do vinho. De novo, é só reclamar que eles lhe cobram o preço correto, mas quantos reclamam?

Talvez devêssemos aprender a fazer barulho nestes casos. Será que isto mudaria algo?

Abraços,

Henri

sexta-feira, 15 de março de 2013

O azarado e a inflação

Sempre fiquei incomodado com todos os índices de inflação que vejo publicados. A cada ida a um supermercado parece que o mesmo valor compra menos itens, ou que para comprar a mesma quantidade de itens, o valor é sempre maior.

Mas como medir isto? Anotar as compras feitas e comprar os mesmos itens 1 ano depois, e ver a variação na compra? Quem tem paciência e disposição pra isto? Estava pensando em alguma maneira de contornar isto quando me lembrei da Nota Fiscal Paulista.

Pra quem não mora no estado de SP: o governo paulista sempre criou várias estratégias para incentivar a população a pedir nota fiscal nos estabelecimentos, como uma forma de garantir que os impostos, em especial o ICMS, que tanto lhe interessa, fossem apurados. A lembrança disso remonta aos meus tempos de moleque, quando colecionava figurinhas de um álbum chamado, se não me engano, Paulistinha, onde as figurinhas eram obtidas mediante a troca das notas fiscais pelos envelopes e pelo próprio álbum, por volta de 1980 / 1981.

Agora, com o avanço da nota fiscal eletrônica, ficou mais fácil: o governo incentiva que você peça a nota fiscal identificando-a com seu CPF, e lhe devolve uma parte do dinheiro dos impostos que foram arrecadados com cada nota fiscal. A cada 6 meses o governo libera esta contrapartida para que você possa transferir para sua conta corrente, ou abater do IPVA de seu veículo, e de quebra o governo ganha também uma ferramenta para te fiscalizar (acompanhar o que você declara no IR versus o volume de compras que você faz em seu CPF).

Mas o que nos interessa, neste caso, é que as notas fiscais ficam disponíveis para consulta, inclusive com os itens que compõem estas notas fiscais. Atualmente você pode consultar notas de 2010 até 2013.

Peguei então alguns produtos que compramos com alguma frequência, para acompanhar sua evolução de 2010 até 2013. Neste período (jan/2010 a fev/2013), os índices oficiais de inflação foram: IGPM de 26,93%, e IPCA de 21,13%. Os produtos desta amostragem estão abaixo - eu não quis pegar frutas, legumes e verduras, para evitar os efeitos da safra e entressafra - e consideram compras feitas no mesmo estabelecimento:


A conclusão é óbvia, eu é que não havia pensado nisto antes: eu sou muito azarado, pois em geral só compro produtos que sobem muito mais que a inflação. Deve ser isto.

Abraços,

Henri