sábado, 18 de outubro de 2014

O modelo de debate eleitoral está falido

Esta charge, do Jornal de Brasília, ilustra bem o modelo atual de debates eleitorais:


Mas será que tem mesmo que ser assim?

Pelos números das últimas eleições presidenciais, tivemos mais de 27% de eleitores brasileiros que optaram por não votar em nenhum candidato, incluindo pessoas que não compareceram à votação, tendo justificado ou não a sua ausência, e as pessoas que compareceram e optaram por votar em branco ou anular seu voto.


Por outro lado, do total de votos válidos, mais de 75% votaram em um dos dois candidatos que foram para o segundo turno.


Excluindo-se então as pessoas que não votaram no primeiro turno, os votos brancos e nulos, pois a possibilidade de que façam a mesma coisa no segundo turno é grande, e as pessoas que escolheram um dos dois candidatos, e que, pela lógica, devem repetir seus votos no segundo turno, temos mais de 25 milhões de eleitores que não poderão repetir seu voto no segundo turno, e que precisarão decidir se farão parte dos que escolhem um dos dois candidatos ou dos que se abstém da escolha.

Feita a introdução, vamos ao que interessa: um dos processos que deveria auxiliar muito nesta escolha são os debates eleitorais. Mas nosso modelo está completamente falido.

Mesmo que você seja um dos 78 milhões de brasileiros que já votaram num dos dois candidatos que foram ao segundo turno, ou um dos 25 milhões que votaram em outro candidato e que já optaram por uma das duas candidaturas restantes, experimente assistir a qualquer um dos debates tentando deixar a torcida de lado. Veja o que é possível aproveitar dali.

O resultado é muito ruim. Comecei a fazer este esforço, independente da minha escolha, no meio do último debate no SBT, pois começou a me chamar a atenção de que a pancadaria estava passando do ponto. E procurei me imaginar como um dos indecisos, procurando excluir a simpatia por uma das candidatura e a antipatia pela outra, e apenas ouvindo (estava escutando no rádio) os argumentos. Dos dois lados, são pífios. Nada se aproveita dali. Se estivesse entre os indecisos, provavelmente anularia meu voto.

O modelo de debate deveria ser baseado, unicamente, em propostas. As perguntas deveriam ser as mesmas para os 2 candidatos, a primeira um responde primeiro, o outro responde em seguida, depois um diz o que não funcionaria na proposta do outro e vice-versa. Depois altera a ordem. Atacou o adversário, e não se limitou, na resposta, a apresentar a proposta ou a dizer por que a proposta do adversário não é boa, ou é inferior à sua, corta o microfone, perde o tempo, não sei, mas pune na hora.

Isto permitira a um indeciso ter base para escolher entre aquilo que julgasse ser melhor para o futuro, escolhendo em cima do que foi proposto e não escolhesse um candidato a partir do medo de escolher o outro, influenciado pela propaganda negativa acerca deste.

Outro efeito colateral deste modelo, este positivo, seria a possibilidade de comparar, durante ou ao término do próximo governo, se ele está cumprindo o que prometeu. No modelo atual, os candidatos somente brigam, acusam, chamam de mentiroso, mas não fazem propostas exceto as genéricas, que não conseguem ser aferidas e comparadas.

E o último principal efeito seria não aumentar os 27% iniciais que não escolheram ninguém. Imagine um quadro onde quase a metade dos eleitores brasileiros não optassem por nenhum dos candidatos?

Abraços,

Henri Coelho