É muito interessante a função de um crítico de cinema, tv ou livros: ter que analisar diversos trabalhos num espaço curto de tempo e emitir, sobre eles, uma opinião que pode levar mais ou menos pessoas a se interessarem por aquela obra.
No entanto estes críticos deveriam seguir uma regra, que se não existe está sendo proposta aqui: qualquer revelação acerca do enredo, das personagens, dos acontecimentos, das cenas e de tudo mais que cerca o objeto da crítica não deveria expor o que acontece depois de, por exemplo, os primeiros 10% ou 20% do conteúdo.
Muitas vezes deixo de ler estas críticas por esta razão, as vezes prefiro me arriscar em algum filme, por exemplo, sem saber nada do que se passa nele, e muitas vezes isto é péssimo, pois acabo vendo coisas que não tem nada de interessante. Mas muito pior é assistir a algo que alguém lhe diz o que vai ocorrer e seu cérebro fica esperando que aquilo ocorra, sem prestar a devida atenção no resto ou sem considerar o que está assistindo ou lendo com alguma surpresa, pois sabe o que vai ocorrer à frente.
E isto ocorreu novamente na semana passada: o jornal Valor Econômico tem um caderno que é encartado às sextas-feiras chamado Eu & Fim de Semana, onde são apresentadas reportagens especiais, normalmente uma boa entrevista com alguma personalidade de destaque, alguns artigos e críticas de filmes, livros, cds e séries.
E na última sexta-feira havia uma crítica a uma série, da Netflix, chamada OA, que tem apenas 8 capítulos e, por enquanto, 1 temporada. A crítica dizia que a série tinha altos e baixos, lembrava outra série da mesma empresa, chamada Stranger Things, que teve boa repercussão recentemente, porém citava que era uma série para adultos.
A série mostra uma jovem, cega, que desapareceu, e que cuja família tentou, de várias maneiras e com boa repercussão na imprensa, encontrá-la, sem sucesso. E esta jovem reaparece, depois de 7 anos, numa ponte, parando o trânsito e aparentemente desorientada, com várias pessoas filmando em seus celulares, até que pula no rio e vai parar num hospital, onde a família a acaba encontrando. E com alguns detalhes interessantes: ela possuía várias cicatrizes nas costas e não estava mais cega.
Todo o enredo acima, que serve para atrair quem possa se interessar pela série, cobre os primeiros 5 a 10 minutos da trama. A série fala também de experiências de quase morte - aquelas pessoas que tiveram paradas cardíacas e respiratória e que conseguiram ser ressuscitadas a tempo - de uma forma bem interessante, o que também vale citar no mesmo contexto.
E o que fez o brilhante crítico de séries do Valor Econômico: uma crítica maior (ocupava 3/4 de uma página pequena, pois neste encarte as páginas são menores, e este espaço incluía uma foto dos protagonistas) e com boas revelações sobre o enredo, do tipo estraga-prazeres ou spoiler, como é conhecida atualmente. E a pérola final: sabe qual a cena que ele descreve na crítica? A última cena do último episódio desta temporada, por enquanto, única da série.
Para mim isto passa de qualquer limite aceitável. Embora, como disse no início, ache muito interessante o trabalho dos críticos, neste caso o texto estava abaixo da crítica.
E, sobre a série, gostei do seu conteúdo, acabei assistindo com meu filho durante o final de semana e vale bem a pena. Se eu não soubesse de antemão qual a última cena talvez gostasse ainda mais.
Abraços,
Henri Coelho